Texto extraído da Tribuna da Imprensa
E então alguma coisa nova parece ganhar estatura na política brasileira: Eduardo Campos, governador de Pernambuco pelo PSB.
FHC falou em troca de gerações, numa alusão à permanência teimosa de Serra no topo do PSDB. Curiosamente, FHC se refere ao PSDB como se fosse o porteiro da sede do partido, numa impotência miserável. Ou melhor: como se fosse um acadêmico, trancado no ar refrigerado de uma sala numa universidade.
Neto de Miguel Arraes, lendário homem da esquerda brasileira, Eduardo Campos, 47 anos, nasceu na política. Tem uma qualidade essencial para um líder político moderno: faz parte do zeitgeist, do espírito do tempo. É um homem com visão social.
Nisto se distingue de Aécio Neves, a grande esperança do PSDB pós-Serra, também ele neto de um avô ilustre na política nacional, Tancredo Neves. Em Aécio, social tem um outro significado: festas, farras. Visão social, à Aécio, é a observação detalhada da programação festiva da semana.
Contra Eduardo Campos pesa o fato de ser, pelo menos até aqui, uma figura regional. Campos é pernambucano como Lula, mas Lula virou personagem nacional em São Paulo, 30 anos atrás, como líder metalúrgico de São Bernardo. É verdade que seu PSB teve um desempenho brilhante nas eleições municipais de 2012: elegeu 440 prefeitos, 42% mais que em 2008. Isso quer dizer alguma coisa, mas ninguém sabe exatamente ainda o quê, em termos de 2014.
Terá Campos papel relevante nas eleições presidenciais? Ou seus olhos estão voltados para 2018?
A oposição parece gostar de uma chapa Campos-Aécio para enfrentar a situação. Mas, admitindo a união dos netos, quem seria presidente e quem seria vice? É uma situação curiosa. Teoricamente, a primazia seria de Aécio. Mas o real fato novo seria Campos.
Imaginemos que a razão prevaleça, e Campos seja o cabeça da chapa. Seria uma candidatura forte o suficiente para que o PT recorresse a Lula, no lugar de Dilma?
Os dias longos dirão. Pode ser que Campos esteja pensando mais em 2018. Mas aí é possível que ele tenha então um adversário forte de sua própria geração, Haddad.
Haddad, se fizer uma boa gestão em São Paulo, vai longe. Da prefeitura paulistana ao Planalto a distância pode ser incrivelmente curta.